segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mimos da Belinha

Ainda “a ressacar” do arroz de tordos, o almoço de Domingo, desta vez em casa casa dos Avós maternos Belinha e Bilo, reservou-me uma surpresa.
Depois do assado de costelinhas, batatas com casca, arroz branco e espigos salteados, diz a Belinha ao Bilo “Abílio, traz a sobremesa!”; SOBREMESA: ouvindo esta preciosa palavra, os meus olhos iluminaram-se, acompanhando o girar da cabeça, em direcção à Belinha, como que a indagar “fizeste sobremesa?!”, pelo que a minha avó logo esclareceu, objectiva e assertivamente, limitando-se a proferir as palavras mágicas: mousse de chocolate. Mousse de chocolate, a minha sobremesa preferida! O meu contentamento foi imediato e bem visível, tanto que emocionei a minha avó, que se comoveu com a satisfação que o seu gesto provocara.
O Bilo, que entretanto se dirigira à cozinha para ir buscar a mousse, irrompeu pela sala, de taça de vidro na mão, contendo a pasta escura, encorpada, espessa, doce. Para a apreciarmos como deve ser, devemos levar à boca uma boa colher de sobremesa, completamente cheia, para sentir o aveludado da sua consistência, aliado ao forte sabor do chocolate…
Não há, decididamente, doce tão bom. Para além do seu sabor, é a sobremesa que se adequa sempre a tudo: tem poder para rematar qualquer prato. É universal. No entanto, tem obrigatoriamente de ser bem feita, caseira, começando por ligar muito bem o açúcar e as gemas, e optando por um chocolate com grande percentagem de cacau.

O Famoso Arroz de Tordos

            Há muito tempo que não degustava este petisco que tanto aprecio. Durante a semana, enquanto falava ao telefone com o meu Pai, oiço a minha avó Marília, ao lado dele, a dizer “Diz-lhe que venha almoçar no sábado, é arroz de tordos!”; ao receber o convite, ao saber da notícia, automaticamente o meu cérebro remeteu o pensamento para uma viagem que percorreu o sabor, a textura, o som dos ossinhos dos tordos durante o seu mastigar…Sim, porque, a meu ver, os tordos são para comer inteiros, carne e ossos incluídos!
            Chegando o tão aguardado sábado, eis o que nos esperava: uma mesa para nove pessoas (Max, Marília, Ninita, Ana Maria, Pité, Miguel, Maria, João e eu), onde se dispunha um misto de chouriça de porco e chouriça de javali (muito saborosa), um bom pão trigo e, por fim, a grande iguaria preparada religiosamente pela Ana Maria: o fumegante arrozinho, bem apurado com presunto, acondicionando os tordos partidos em quartos. Que delícia!...
            A acompanhar este manjar, um bom vinho tinto, que é o que se quer. (Espero ir enriquecendo a minha cultura na área da enologia.)
            E assim decorreu a refeição, como que uma despedida da época fria da caça, pois como já disse, em breve virá a pesca, trazendo com ela as tão desejadas trutas.
             

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Tardes de Pesca

Estamos prestes a entrar na época de Pesca.
A partir de dia 1 de Março, o meu Pai (Pité), Tio Miguel, Avô Max e mais uns quantos amigos, entre tantos outros amantes dos rios e dos montes (e dos peixes!), vão finalmente poder calcorrear lameiros, espreitando os cursos de água, na ânsia de voltar a casa de cacifos cheios.
Pois bem, a pesca tem muito o que se lhe diga: depende, como em tudo na vida, dos pontos de vista, é certo. Neste momento, vou apresentar o meu, depois de passar anos a presenciar as famosas "conversas de pescas", bem conhecidas entre a minha família, disputadas entre aqueles que já referi inicialmente.
Nada melhor do que, para tornar conhecida a minha opinião sobre a pesca, definir um dos lados que esta representa para os seus amantes, membros da minha família, lado esse cuja visão também subrescrevo, reforço e sinto: a merenda.
E, a partir deste ponto, entramos ainda num outro campo, e sobre o qual não quero demorar-me, pelo menos não para já, uma vez que pretendo dedicar à MERENDA uma publicação própria; mas, adiantando-me, reparem que só a palavra, a sua sonoridade, conferem a um comum "lanche" um sabor especial...
E é assim que o meu Pai, o meu Tio e o meu Avô se equipam para um longo dia, que, para ser bom, deve começar às 5h da manhã, hora a que abalam de casa com a "Nevera" e os cestos bem recheados: bolos de bacalhau caseiros, da minha Avó Marília; linguiça e salpicão; um bom pão (elemento fundamental), trigo ou centeio; folar de Chaves (salgado, semelhante ao de Bragança, com carnes gordas); croquetes de perú caseiros; panados feitos pela Fátima (dedicar-lhes-ei também uma publicação, bem merecida); pataniscas de bacalhau caseiras; fruta.
E, para mim, que muitas vezes, em criança, acompanhava o meu Pai nestas andanças, grande parte da pesca é isto: um piquenique durante o qual vamos lançando a cana, com amostra, saltão, minhoca ou mosquito, para ver se "elas picam" (traduzindo a gíria de pesca: para tentar pescar trutas). Um momento durante o qual degustamos bons petiscos, que nos sustentam para podermos caçar matéria-prima para novas iguarias: truta frita em azeite, trutas de escabeche...
Foi por volta de Abril, era já tardinha. Estávamos o meu Pai e eu no "Areal" (local onde íamos frequentemente, no rio Terva); estendemos a toalha, prontos para "merendar". O cheiro das giestas, do lameiro e da água do rio deixaram-nos de água na boca. Preparo-me para atacar um canto de trigo, guarnecido com o tal panado da Fátima. Cuidadosa e meticulosamente, numa espécie de ritual, fui mordiscando as bordas da sandes, reservando o meio - a melhor parte! - para o fim. Fim esse que teve lugar não na minha, mas sim na boca do meu Pai...Desolada, mas não derrotada, compensei a perda com atum de lata acompanhado com pão, o que também tem o seu valor, sendo para isso necessário uma conserva de qualidade!
Nunca me esquecerei desta nem de nenhuma outra tarde de pesca.
Tardes de passeio, de alegria e de aprendizagem.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Apresentação: portuense e transmontana

É inevitável fazer um primeiro post acerca das minhas origens.
Nasci no Porto, a 1 de Setembro de 1989, gerada durante um Verão especialmente quente, durante o qual a minha Mãe ingeriu doses industriais de fruta (especialmente melancia!).
Passei os primeiros onze anos e meio da minha vida na Invicta, contactando esporadicamente com a terra natal dos meus Pais - Chaves, Trás-os-Montes.
Por aqui se antevê a 'escola' de sabores que me educou: entre tripas enfarinhadas, à moda do Porto, passando pela veradeira feijoada, gordas alheiras e um bom salpicão, assim cresci eu, que aos três anos, conta a minha Avó Marília, acompanhei, numa refeição, feijoada com alheira.
Recuando novamente no tempo, comi a minha primeira sopa (uma almoçadeira generosa com todos os legumes) aos 3 meses e meio; aos 6 meses, passei o domingo de páscoa a 'chuchar' uma pata de cabrito. Mamei do leite materno quase até atingir os 2 anos.
Pois bem, assim podem aperceber-se do meu amor pelos sabores, acompanhados de aromas, convívios, afectos...
Hoje, aos 21 anos e meio, já com alguma experiência no ramo das provas gastronómicas (tendo em conta a minha idade), vou pesando na memória o histórico de sabores que me acompanharam e acompanham até agora.