Com a sabedoria que o caracteriza, o vovô Max costuma dizer: “Vocês muito se riem!”, referindo-se à minha prima Maria e a mim. E afirma-o com toda a razão.
De facto, é hábito das primas a partilha de gargalhadas, e são muitos os momentos de galhofa, desde tenra idade.
O jantar de segunda-feira foi mais um momento delicioso para acrescentar à nossa lista.
Sentimos necessidade de mimo familiar e, para mim, nada pode ser mais “de família” do que ir a um bom restaurante, sendo genético o gosto pela cultura dos sabores. Fomos então explorar o restaurante recentemente aberto perto de minha casa, O Caçula.
Foi uma decisão bem tomada. Desde o ambiente até à decoração, o Caçula surpreende pela sua inovação, sem abandonar o forte cunho familiar, impresso na simpatia de todo o pessoal. Na decoração, destaco os espaços sóbrios e elegantes, acolhedoramente iluminados, com apontamentos que despertam a nossa atenção: quadros com fotografias de crianças, paredes das casas-de-banho forradas com anúncios de jornais, flores frescas a animar a bancada do lavatório… pormenores que marcam a diferença.
Escolhemos a mesa encostada à banca onde preparam as pizzas, perto também do forno a lenha, o que nos permitiu ir acompanhando todos os passos da confecção das iguarias ultra finas e crocantes.
Enquanto esperávamos por uma delas para petiscar como entrada, fomos debicando umas fatias de pão de sementes embebidas em azeite e vinagre balsâmico, garantindo assim o acondicionamento do estômago.
Depois, rápido passou o tempo, entre dentadas barulhentas – a massa da pizza era tão estaladiça – e conversa animada e regada com sangria de vinho branco, até que chegou a picanha, eleita para prato principal. Estava razoável; a carne não era especialmente tenra e não me convenceram os cones de massa frita que vinham a acomodar o arroz branco. Quanto ao feijão preto, estava bem confeccionado.
Por fim, a parte mais importante: a sobremesa, claro! Aqui se destacou o jantar, com os gelados a assumir o papel principal.
A Maria optou por um bolo quente de chocolate (delicioso!) com gelado de tangerina, mimosamente decorado com flor comestível.
Eu optei pelo panna cotta com gelado à moda do chefe, sobremesa que, segundo me assegurara o empregado, seria uma boa surpresa. Realmente, surpreendeu-me o molho da base, com intenso sabor a manjerico, mas preocuou-me a incapacidade de decifrar o sabor do gelado. E não superei o desafio sozinha!
No fim, o empregado desvenda-nos o mistério: o gelado era de cogumelos! É hábito do chef experimentar e fabricar os gelados caseiros e de sabores exóticos.
Mais pitoresco foi ainda o remate da refeição, momento em que nos foi trazida uma bola de gelado para degustação, desta vez de pimento assado, um miminho da casa. Foi, sem dúvida, uma experiência diferente. Agradou-me imenso e até sugeri o gelado como acompanhamento de sardinhas numa potencial reinvenção das sardinhas assadas dos Santos Populares. Será que resultaria? O que acham? Devo dizer que me surpreendi a mim própria ao formular tal sugestão, já que sou assumida e manifestamente conservadora no que toca à confecção de pratos típicos. Fica a reflexão.
Moral da história: percebi logo o carácter desta refeição. Seria mais material para produzir o texto desta semana; pela companhia, pelo convívio de primas num espaço agradável, descoberto e explorado por ambas em condições idênticas (nenhuma de nós tinha ainda visitado o restaurante referido); juntas descobrimos a novidade dos gelados e a casa-de-banho de jornal.
E a semana começou para nós da melhor maneira, e nem mesmo a conta um pouco mais elevada nos impediu – senão fomentou! – mais gargalhadas.
A mim, permitiu-me reflectir sobre a problemática das reinvenções.
Em suma, foi produtivo!
Voltaremos, para a próxima tem de vir o Vovô Max!