As palavras valem o que valem. São levadas pelo vento, é o que dizem. Ou então são altamente inferiorizadas perante uma imagem que, e também assim o dizem, valerá mais do que mil conjuntos de letras.
Mas eu gosto de palavras, gosto de letras, gosto de escrever, gosto muito de falar e gosto também de ouvir, nem que, para isso, tenha de arrancar as palavras a alguém através de ataques incessantes de perguntas.
Gosto de saber pormenores sobre factos, histórias. Quase nunca me importa se o que oiço será ou não verdade. Delicio-me a ouvir pessoas em relatos sobre as suas vidas: como foram, como são, que memórias guardam, quais as defesas que vão construindo.
Parece-me que procuro avidamente prover sentido e significado às palavras, quero acreditar muito nelas para poder sentir-me protegida. Como se, assim, consiga abstrair-me dos meus pensamentos e sentimentos.
Talvez por isso tenha, desde que me lembro que existo, desenvolvido uma forma de sinestesia que não será menos do que a minha tentativa inata de concretizar as palavras, torná-las palpáveis, com cheiros, sabores, cores. Assim, elas ganham vida.
Desta forma, quase todos os conjuntos de letras têm, para mim, uma correspondência concreta: à sonoridade da palavra, quase sempre vem associado um cheiro, um sabor, uma imagem.
Poderia construir toda uma nova linguagem, embora com uma grande falha: apenas eu saberia decifrá-la.
E o meu cérebro não se cansa de trabalhar em parceria com o meu coração e com os cinco sentidos, com o objectivo de obrigar-me a conhecer-me melhor.
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